Dra. Nadia Bossa

SOMOS ATRAÍDOS POR ALGUÉM SEMELHANTE AOS NOSSOS PAIS?

    “Ah, essa comida não é igual à da minha mãe!”. “Ah, você não sabe fazer isso do mesmo modo que o meu pai!”. Frases como essa são comuns em relacionamentos e, embora pareçam banais, chamam atenção para uma ideia que vem sendo difundida pela sociedade há décadas: a de que somos naturalmente atraídos por um parceiro semelhante aos nossos pais. Será que isso tem algum fundamento científico?

    Estudos desenvolvidos entre 2010 e 2018 da Universidade da Pensilvânia constataram que, inconscientemente, a maioria dos participantes tendia a se interessar, inclusive do ponto de vista sexual, pelo parceiro que lhe parecia mais familiar. Essa tendência pode ser entendida de maneiras diferentes. Se analisarmos do ponto de vista psicanalítico, nos depararemos com a teoria do complexo de Édipo, elaborada por Freud, ou a teoria do complexo de Electra -sendo a adaptação do complexo de Édipo ao contexto feminino- elaborada por Jung.

    Soando estranho para alguns, a psicanálise não diz que sentimos conscientemente atração por nossos pais no dia a dia- nem que desejamos nos relacionar sexualmente com eles-, mas sim que esse sentimento primitivo que ocorre na primeira infância é reprimido de modo que o inconsciente o trabalha de outra forma.

    Outra possibilidade de explicação proposta pela psicanálise é de que essa escolha pelo parceiro semelhante aos pais se dá por conta de um processo de “reparação”. Note que não estamos nos referindo apenas à aparência física, mas também à relações que instiguem situações difíceis parecidas com as passadas com nossos genitores. Todos saímos da infância com algumas feridas e, muitas vezes, escolhemos alguém familiar para que tenhamos a possibilidade de resolver os conflitos que nos afligiram quando éramos crianças. É como se nos déssemos outra chance de recomeçar de onde paramos. Buscamos no outro, então, defeitos semelhantes aos de nossos pais para superá-los e fecharmos aquela ferida.

    Também há a possibilidade de enxergar essa tendência amorosa como uma tentativa de reproduzir o que te gerou prazer e amor. Se o relacionamento dos seus pais era um sucesso, é natural que você procure alguém com os mesmos traços de personalidade em uma tentativa de garantir a felicidade a dois. Quanto mais profunda for a ligação entre mãe e pai, maior será a influência na escolha do parceiro.

    De um ponto de vista mais cético, podemos afirmar que o nosso cérebro tende a “gostar” daquilo que lhe parece mais familiar.

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