ACORDAR. TRABALHAR. DORMIR. ACORDAR. TRABALHAR. DORMIR. ACORDAR. TRABALHAR. DORMIR. Sei que você tem encarado essa dura rotina incessantemente. E quando finalmente sobra um tempinho, o que você faz? Claro, colocar algo do trabalho em dia. Para tudo! Entendo que hoje uma das nossas maiores dificuldades é descansar. Não porque não gostamos ou precisamos, mas porque não sabemos mais como fazer isso. A lógica da produção desenfreada penetrou em nossos inconscientes, sem que ninguém percebesse, e quando perceberam- BUM!- já estava instalada.
Não sabemos descansar porque descansar é o contrário de não trabalhar, ou de deixar as tarefas de casa para depois. O ócio deve ser, à sua maneira, um ócio produtivo para o descanso. Apesar das pesquisas sobre sua importância serem ainda embrionárias, alguns pesquisadores já relacionaram o ócio produtivo com um aumento na qualidade de vida da população adulta. Não é apenas não fazer nada, é fazer nada com propósito!
O ócio é uma experiência psicológica dual e intensa, se mostrando como um momento de encontro intrapessoal e de introspecção. A todo o momento estamos performando atitudes e comportamentos para que caibamos em espaços sociais: nos esforçamos para sermos assertivos e organizados no trabalho, calmos no trânsito, simpáticos na vizinhança, responsáveis com nossos filhos… O ócio é o momento em que devemos abaixar essas guardas e expectativas, nos permitindo apenas ser- e nada mais.
O ócio, em seu sentido mais clássico, é essa ausência de imposição (e não, como muitos pensam, não fazer nada), é envolver-se livremente em uma ação que necessariamente nos traga uma realização intrínseca a si mesma, sem se aplicar a medidores sociais de produção ou que nos ofereça resultados. Abraham Maslow, um famoso psicólogo americano, descrevia o ócio como essa possibilidade de fascinar-se com algo de tal forma que as preocupações se dissipam: o indivíduo no ócio perde-se no presente, satisfazendo-se puramente pela pelo prazer da ocupação que o tira de um ritmo frenético, da lógica das obrigações.
A renúncia momentânea das obrigações para nos satisfazermos puramente com o presente é um momento ocioso de extrema qualidade que nos permite relaxar verdadeiramente. Nossa consciência relaxa: relaxa das obrigações, das expectativas, das inúmeras possibilidades, das ansiedades e consegue desocupar-se, fundir-se com a experiência de relaxamento por completo.
Nosso cérebro tem uma capacidade limitada de preocupações e obrigações: dessa produtividade incessante surgem os famosos burnouts e várias formas de ansiedade. Assistir a uma animação, tomar sol na praia, deitar na grama, tomar um banho quente e sentar em um parque ouvindo uma música calma: a percepção de liberdade desses momentos relaxa o nosso cérebro e nosso corpo, tão enrijecidos com as cansativas rotinas de trabalho, estudos, família e relacionamentos.
Essa semana te proponho um desafio dificílimo: arranjar 30 minutos para não fazer nada, senão ouvir os barulhos da rua, observar as árvores em um parque, tomar um banho relaxante. Dificílimo porque aprender a desligar nossa mente talvez seja um dos maiores desafios para uma sociedade que se acostumou a não parar, a não descansar, a não ter tempo, e sofre constantemente as consequências negativas disso.