“Aberração”. Substantivo feminino que denota 1. Desvio do que é considerado padrão; 2. Qualidade, condição ou estado de irregularidade que resulta deste desvio. O musical “O rei do show” conta a história de P.T. Barnum- interpretado por Hugh Jackman-, o criador do circo moderno, que se tornou uma lenda do entretenimento norte-americano ao fundar um circo de horrores.
O showman reuniu “aberrações” – pessoas singulares, de características inesperadas- para gerar lucro. Deixando de lado a problemática da lógica de mercado em explorar pessoas diferentes do padrão, o filme levanta debates sobre valores como senso de pertencimento, identificação e empatia. Ao escolher pessoas que sempre sofreram por estarem à margem da sociedade para se tornarem suas estrelas, exatamente como P.T. Barnum as chama, o showman deu voz e aumentou a autoestima de quem antes se sentia invisível (ou visível até demais).
Mesmo depois do personagem de Hugh Jackman pisar na bola com todos do circo por se deslumbrar e (olha o senso de pertencimento de novo) tentar pertencer e ser aprovado por uma classe que a vida inteira o subjugou, é evidenciado na frase da Mulher Barbada a grande contribuição que o showman trouxe àquelas pessoas: “você nos deu uma família”. Sozinhos, se escondendo pelos cantos e sem nunca se sentirem pertencentes à um grupo, ao reunir os freaks no circo, P.T. Barnum deu justamente o que eles queriam a vida toda: ter um grupo onde pudessem se identificar com outras pessoas. Eles finalmente perceberam que não estavam sozinhos no mundo e que alguém sentia exatamente o que eles sentiram em toda sua existência.
Pertencimento e identidade são termos complementares, muito utilizados e falados nos consultórios, livros e estudos de psicologia, psicopedagogia e pedagogia. Esses termos se complementam porque, na maioria das vezes, buscamos pertencimento naquilo que nos identificamos e o processo de identificação se molda a partir dos grupos e ambientes que começamos a fazer parte. Nossa busca pela própria identidade é um caminho sem fim, que nos acompanhará durante toda a vida: se o mundo se transforma a todo o momento e nós internalizamos essas transformações, nossa identidade está em constante movimento.
Se sentir pertencente a um grupo, a uma comunidade ou espaço, é de primordial importância para que as experiências sejam compartilhadas e para que haja um sentimento de inclusão naquele ambiente. Pertencer não significa, necessariamente, ser parecido a outro ou possuir características iguais – na verdade, diz muito mais sobre a vontade de compartilhar das semelhanças e diferenças em um espaço que acolha essas particularidades. Na escola, por exemplo, vemos essa característica como um fator relevante para o sucesso escolar: a criança que se sente importante, atuante e significativa naquele espaço, acaba por entendê-lo da mesma maneira. No sentimento de pertencimento, constroem-se valores, conhecimentos, habilidades e competências voltados para esse senso de coletividade.