Que a Covid-19 foi extremamente devastadora, já sabemos. São inúmeras sequelas físicas, psicológicas e socioeconômicas deixadas no mundo todo. O mundo foi completamente afetado. Hoje, porém, me proponho a falar sobre as consequências para aqueles que vivem em outro tipo de mundo: o interno.
O isolamento social provocado pela pandemia surtiu diversos efeitos, principalmente naqueles que estavam na fase de maior desenvolvimento social, emocional e cognitivo – as crianças. Entre as mudanças acarretadas pelo distanciamento da escola, dos professores, da família estendida e dos colegas, as possibilidades de ampliar e variar esse desenvolvimento foram reduzidas, fazendo dessa questão uma preocupação constante dos pais e professores.
Para as crianças com TDAH e suas famílias, o desafio foi ainda maior: os estudos feitos até o momento relacionando o TDAH com as implicações da pandemia da Covid-19, apesar de não serem numerosos, já demonstram que essa população teve os sintomas agravados: a irritação, as “birras”, a perda do interesse em atividades e um crescimento dos relatos de tristeza e agressão foram percebidos pelos pesquisadores.
O EAD- que já se mostrou um obstáculo para as crianças em desenvolvimento típico- atuou como um dificultador enorme do aprendizado em crianças com TDAH. Na escola, a criança entende que está num ambiente de aprendizado. O lar, que era entendido como o espaço do descanso, da descontração e da brincadeira, repentinamente se misturou com esse lugar de aprender e educar. Como prender a atenção de uma criança com tanta disponibilidade de distração e sem a supervisão e a orientação próxima de um educador?
Esse olhar clínico do educador também foi de grande falta para os tratamentos do TDAH, visto que os relatórios preenchidos pelos professores são de grande importância para o diagnóstico e o andamento do tratamento desse transtorno. Problemas de sono também foram amplamente observados: alguns fatores, desde o medo e as incertezas impostos pela pandemia e até mudança da rotina – pensem que as crianças passavam os dias fora de casa, brincando e estudando e naquele momento se depararam com a imposição dos dias restritos às paredes de casa – impactaram muito o ciclo de sono dos pequenos. O sono é um importante regulador dos sintomas do TDAH e sua privação e/ou alteração pode aumentar a distração, a hiperatividade, a irritabilidade, entre outros.
Apesar das crianças serem sempre o foco principal das nossas discussões, o problema não se finda nelas. Adultos com TDAH também se mostraram um grupo de risco para alguns fatores como irritação exacerbada, tédio, dificuldade de manterem a rotina de trabalho e estudo e até de evasão escolar
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