O período de férias se mostra como uma fase de saudade para algumas crianças e de alívio para outras. No primeiro caso, os pais ouvem o tempo todo sobre como os amiguinhos, a rotina e as professoras fazem falta nos dias longe da escola. Já no segundo, o cenário é completamente outro: aborrecimento, tristeza e até mesmo desespero ao ouvir “início do semestre”. O que explica isso?
Digamos que a criança que gosta e ir à escola é a materialização de que todo esforço empreendido pelo corpo docente valeu a pena. Esse aluno conseguiu estabelecer uma relação de prazer e satisfação com o ambiente escolar, o entendendo para além de um local de aprendizado, mas também de socialização, do brincar e de conviver com o outro. Eu, como psicopedagoga, sinto que meu dever foi cumprido quando me deparo com uma situação dessas.
Porém, existe um outro cenário: a da criança que não deseja voltar à escola porque a compreende como um local ligado a sentimentos ruins, de inadequação e incômodo. A pergunta é: por quê? O que pode estar por trás disto? Diversos fatores integram a gama de motivos pelos quais uma criança não se sente feliz ao retomar o ano letivo, dentre eles, alguns merecem destaque por conta da recorrência: bullying, dificuldades e transtornos de aprendizagem, problemas com o sono e a timidez excessiva.
Afirmo em um dos meus escritos: “a escola é uma instituição encarregada de veicular todas essas normas. Aparentemente, sua função seria a transmissão do conhecimento construído culturalmente, porém seu peso em nossa sociedade é muito maior e muito mais do que ensinar um conteúdo; ela pressupõe a disciplinarização, a hierarquização”.
Muitas crianças sentem isso de forma direta e intensa, entendendo a escola como um lugar chato, onde não é permitida expressar o que ela realmente é: criança. As matérias muitas vezes são colocadas de maneira que não dialoga com as referências daquela criança, se tornando abstratas, maçantes e desconexas. Os professores por sua vez, alguns enrijecidos por conta dos anos de docência ou pela rotina cansativa, têm dificuldade de pensar em alternativas para que o aprendizado seja muito mais um prazer do que uma obrigação.
Antes de mais nada, digo que a escuta é o primeiro passo: devemos estar abertos a conversar com nossos filhos. Talvez a tarefa mais difícil do processo seja designada ao adulto, que deve se desarmar de pré-julgamentos e estereótipos e acolher a criança. Pergunte ao seu filho, de maneira carinhosa, os motivos dessa negação à escola. Pergunte sobre a relação com os colegas, sobre os professores, sobre o ambiente…
É importante que não tentemos racionalizar os sentimentos da criança, bombardeando-a de exemplos para que ela não sinta aquilo. Afirmações como “seus amiguinhos estarão lá”, “você vai aprender coisas novas”, “terão novas atividades” chegam a criança como uma negação dos seus sentimentos, como se sentir aquilo fosse algo errado, inadequado e suas emoções fossem inválidas. Quando a criança falar, deixe-a expressar seus sentimentos livremente. Deixe que ela fale sem interrupções e consiga entender a complexidade do problema dentro do vocabulário dos pequenos.
Dessa forma, afirmo que o primeiro passo é a escuta qualitativa do sofrimento daquela criança. Os motivos da negação da volta à escola podem ser muitos, como afirmei acima, mas o caminho para a solução é um só: a escuta, o carinho e o aconselhamento.