Dra. Nadia Bossa

MEU ALUNO ME CONFESSOU QUE SOFREU ABUSO SEXUAL, COMO PROSSEGUIR?

 

    Que os bons professores se tornam referências de vidas para seus alunos, isso não é novidade: se tornam amigos, confidentes, portos seguros. Apesar da beleza que é cativar os afetos tão sinceros dos nossos alunos, não podemos deixar de lado a grande responsabilidade que vem junto disso.

    94% das denúncias de abuso sexual infantil são feitas por adultos que descobrem o acontecimento e levam às autoridades. Ainda assim, fica a dúvida: e os outros 6%? O que fazer quando um aluno/paciente nosso nos relata algo tão grave?

    O abuso sexual é de uma dor imensurável para a vítima não só pela violência em si, mas por todo o processo que é a denúncia e o prosseguimento da vida depois de algo tão marcante e sofrido. A criança precisa reviver constantemente aquela dor: ao contar para a sua figura de confiança, ao relatar para os pais, ao depor para o Conselho Tutelar… Dessa forma, é nossa responsabilidade prezar não só pela efetivação da denúncia, mas pela integridade psicológica e emocional dessa vítima.

    É assegurada pelo ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente- a obrigação de denunciar ao Conselho Tutelar a suspeita ou confirmação de maus tratos à crianças e adolescentes – inclusive, caso o professor não denuncie, está sujeito à multa. A denúncia é de extrema importância para que o menor não volte a ser violentado, mas também para que outras crianças sejam protegidas desse abusador.

    Sabemos que essa não é uma tarefa fácil e mexe com muitas inseguranças pessoais dos professores. Alguns podem pensar: “vou me envolver numa situação muito complicada”! Neste caso, se o professor não se sentir preparado para conduzir a conversa, pode optar por pedir ajuda às organizações que desenvolvam trabalhos de proteção às crianças e aos adolescentes.

    O abuso sexual envolve muitos sentimentos, como culpa e vergonha. Por isso, ao abordar o assunto com a criança, deixe-a confortável para falar, escolha um ambiente calmo e que não tenha fluxo de pessoas, não pressione a criança para a obtenção das informações ou peça que ela repita várias vezes. Isso pode aumentar seu sofrimento. Para conduzir a conversa, utilize as mesmas palavras que ela e, por mais difícil que seja, se mantenha calmo e solícito. É raro uma criança mentir sobre essas questões, por isso, valide seu discurso e reitere que nada daquilo é culpa dela.

    Anote o relato da criança, com a declaração exata do que foi dito. Não conte a informação para terceiros, a não ser que essa pessoa precise ser informada para ajudar a criança que viveu o abuso sexual. Caso você esteja inserido no contexto de uma escola, é bom que a direção seja informada e faça a denúncia – reitero: em situações nas quais a escola decida se omitir, ainda sim é obrigação legal e intransferível do profissional de educação realizar a denúncia.

    É importante que a família seja notificada de maneira honesta pelo professor. Ainda assim, se o agressor foi parte da família nuclear ou estendida da criança, essa informação pode ser prejudicial para a investigação e a vítima pode sofrer mais violências. Dessa forma, é necessário procurar responsáveis estratégicos, como membros da família não agressores e/ou afastados do agressor, sempre com a indicação da criança.

    Mesmo que o menor não relate diretamente ao professor, é necessário que fiquemos atentos aos sinais: dificuldade para se sentar, dores na região pélvica, dores ao urinar, isolamento social, sintomas depressivos e ansiosos, mudanças súbitas na alimentação e no comportamento, reações defensivas exageradas, medo de contato físico e comportamento sexualizado são sinais comuns em crianças vítimas de violência sexual. Outros comportamentos, estes sobre a família do estudante, também podem ser indícios: preocupação exagerada, exclusão da criança de meios de convivência e socialização, comunicação ruim e reticente sobre o menor para os profissionais da escola, acusações de promiscuidade atribuídas às possíveis vítimas, mães extremamente submissas ao marido e desconfiança permanente são comuns aos familiares abusadores e/ou testemunhas da agressão.

    Dessa forma, nosso papel enquanto professores é de extrema importância. As crianças, por passarem um grande período na escola, devem se sentir num ambiente confortável e com referências adultas de confiança, não só para os bons momentos, mas para os momentos difíceis também. Se você suspeita que algum aluno seu está sendo vítima de violência sexual, não se cale! A vida e o bem-estar físico, emocional e psicológico estão em jogo.

    A violência provoca danos severos às vítimas. A psicoterapia é uma poderosa aliada: com mais de 30 anos de experiência clínica, as portas do meu consultório estão abertas para você! Realizamos atendimento presencial ou online. Entre em contato conosco

(11)2268-4545

(11)95059-9998

Compartilhe:

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja Mais

Posts Recentes

Artigos
Nádia Bossa

FREUD EXPLICA: POR QUE ASSISTIMOS PORNÔ?

A pornografia é parte do cotidiano de muitas pessoas. Em um post anterior, já falei sobre os malefícios do consumo do pornô – que vão desde a saúde individual e orgânica do espectador até os impactos afetivos nos relacionamentos amorosos e sexuais – mas hoje, convido à reflexão: por que ainda assim as pessoas assistem pornografia? A psicanálise tem algo a dizer sobre isso?

Leia mais »
Artigos
Nádia Bossa

NARCISISMO MATERNO, COMPLEXO DE ÉDIPO & SUPEREGO E ID EM: “CISNE NEGRO”

“Cisne negro” é, com certeza, uma das obras mais repletas de significado para a Psicologia- em uma estranha coincidência (ou não), Natalie Portman, que ganhou um Oscar de melhor atriz pela sua atuação fenomenal no papel de Nina, é formada em Psicologia em Harvard. São muitos os conceitos psicanalíticos presentes no longa, que se estendem desde o Complexo de Édipo e o Narcisismo Materno até “Neurose, Psicose e Perversão”, de Freud.

Leia mais »
0
    0
    Seu carrinho
    Carrinho VazioRetornar a Loja