“SUA MÃAAAAAAAE SABE MAIS.” A música do filme da Disney “Enrolados”, embora divertida e dançante, faz alusão à uma temática triste: a das mães narcisistas. A relação patológica é ilustrada na medida em que Gothel, a mãe de Rapunzel, insulta a filha de maneira passivo-agressiva- “tonta”, “imatura” e “boba” são alguns dos adjetivos utilizados.
Soa contraditório relacionar palavras (”mãe” e “narcisista”) tão antagônicas no imaginário popular, não é mesmo? Esperamos que a mãe seja aquela que tiraria da própria boca para alimentar sua cria. Caracterizado por muitos como nosso primeiro amor, a mãe é a nossa primeira conexão, nossa primeira amiga, nossa primeira cuidadora. Entendemos e construímos o nosso lado emocional mais profundo a partir da relação que traçamos com aquela que nos deu à luz. Não é o que acontece nessa dinâmica familiar.
Um relacionamento que deveria ser nosso maior porto seguro pode se tornar fonte de violência, castigo e inveja. É o que acontece com os filhos e filhas de mães narcisistas. Num primeiro momento do filme, Gothel não se mostra uma mãe problemática – afinal, nosso maior instinto é prezar pela segurança dos nossos filhos. É no desenrolar da obra que a trama se mostra bastante diferente: Gothel não somente despreza a filha adotiva, como insiste em mantê-la aprisionada por puro interesse.
Nas obras de Freud, diversas vezes nos deparamos com o termo “narcisista”, que traduz a ideia de um mecanismo psíquico egoísta para fins de autoconservação. Na teoria freudiana, vemos que o narcisismo é um processo comum a todos nós, bastante influenciado pelas nossas experiências infantis, mas que pode se tornar algo perverso e dolorido para si e para o outro.
Quando se torna patológico, o narcisismo é caracterizado pelos Manuais Diagnósticos como um quadro de “autoestima variável e vulnerável, com tentativas de regulação por meio da busca de atenção e aprovação, e grandiosidade declarada ou encoberta”. Os relacionamentos desses indivíduos se tornam, então, vazios e superficiais, buscando sempre um engrandecimento próprio.
No filme, essa situação é bastante clara: mesmo tendo cuidado de Rapunzel desde sua infância e possuindo uma filha afetuosa, que a amava e admirava, Gothel não conseguia enxergar o outro- apenas uma extensão de si.
O tema, apesar de muito importante, ainda é bastante invisível. O laço estreito entre mãe e filhos pode mascarar muito sofrimento velado pelo ideal de que “as mães sabem mais”, causando instabilidade na formação e no desenvolvimento psíquico dos filhos até a idade adulta.
Nem tudo está perdido! Se você está em algum dos polos dessa relação complicada, a psicoterapia pode te ajudar. Com mais de 30 anos de atuação clínica, possuo ampla experiência na resolução desses conflitos. As portas do meu consultório estão abertas para você!