Ouvimos falar bastante sobre a importância de incentivar as crianças a resolverem seus conflitos e problemas interpessoais sozinhas, para que os pequenos aprendam sobre os próprios limites, os limites dos outros e os limites de cada espaço e ambiente. Isso é importante para que a criança entenda sobre responsabilidades e para que ela exercite sua independência. Mas, será que devemos deixar que eles se resolvam sozinhos? Quando não é mais “papo de criança” e precisa de uma mãozinha adulta?
Henri Wallon, psicólogo que se dedicou a estudar a afetividade e os conflitos, entende que os chamados “conflitos construtivos” são de suma importância para a constituição das identidades do sujeito e se acirram por volta dos três anos. Para Wallon, o eu é construído a partir de um não-eu – ou seja, tudo aquilo que não constitui o que é propriamente individual daquele sujeito. O conflito é, então, a construção dessa diferenciação com o outro, importante para que a criança entenda aquilo que ela não gosta e não quer, assim como o que ela deseja. O psicólogo afirma que esse processo é contextualizado no desenvolvimento e diz respeito sobre a construção da relação consigo e com os outros.
Entendo que a principal intervenção deve vir por meio da educação e do diálogo com as crianças. Ouça o que a criança tem a dizer: os motivos das brigas com os coleguinhas ou irmãos podem até parecerem pequenos para nós adultos, mas partem de frustrações que a criança não soube elaborar. Por isso, converse e pergunte sobre como foi o conflito. Depois, tente entender qual foi o caminho que se deu até o embate: houve um diálogo? a criança conseguiu expressar seu descontentamento?
É importante que você demonstre empatia com a frustração daquela criança. Os conflitos entre crianças são meios de comunicar que algo não está agradando: os pequenos sentem raiva, irritação e descontentamento assim como nós, mas muitas vezes ainda não conseguem utilizar as habilidades comunicativas pacíficas. Podemos entender que os conflitos e choros são mera “birra”, mas é importante que nós consigamos identificar e explicar para a criança qual foi o motivo do descontentamento.
O exemplo é um ótimo aliado no processo de educação: como ensinar a resolver os conflitos entre as crianças de maneira proativa e pacífica se perdemos a paciência quando essa demanda chega para nós? Caso as crianças ainda estejam no ambiente, separe-as para que elas pensem no que aconteceu, se acalmem e procurem, de maneira individual, pensar em solução para propor e resolver o conflito.
Dos 2 aos 7 anos temos muitos conflitos entre crianças porque os pequenos estão vivendo seu período de egocentrismo, uma fase difícil para a família, mas importante de ser atravessada para que a criança desenvolva sua empatia e sua capacidade de entender as vontades próprias e dos outros. Por isso, auxiliar as crianças a entenderem esse processo é de extrema importância para que os conflitos acabem com o aprendizado de maneiras mais pacíficas de resolver os problemas. A escuta empática é sempre uma aliada nesse processo.