Hoje vou tentar responder a pergunta do milhão: “Como ensinar limites para as crianças?”
Alguns pais procuram respostas prontas e simples de como ensinar valores como respeito e empatia aos pequenos. O problema mora aí: essas respostas nunca são simples e partem fundamentalmente das nossas atitudes enquanto principais referências do ser humano em desenvolvimento. A criança aprende sobre valores e moralidade muito pelo exemplo que é dado pela família nuclear, visto que esse grupo é seu principal agente de socialização.
Os ensinamentos tirados a partir deste grupo de pessoas influencia diretamente no processo intenso de descobrimento do mundo e da sociedade que cerca essa criança. Nos meus 30 anos de trabalho na esfera multifacetada da infância, vejo que muitas das atitudes infantis que incomodam os pais partem essencialmente da dinâmica comportamental estabelecida pela família, e não de algo propriamente elaborado pela criança. A questão reside no fato de que a criança muitas vezes aprende por imitação, e os pais se tornam a parte central desse exemplo. Se em casa é comum aos pais apresentarem comportamentos ofensivos uns aos outros, aquilo será naturalizado pela criança a ponto de ela reproduzir a atitude nos ambientes fora da de casa. Simples assim.
Algumas famílias reproduzem essa dinâmica problemática sem nem perceber – porque ela é, de fato, algo muito tênue e silencioso. Para exemplificar temos um ótimo dado: o estudo realizado pela Pesquisa Nacional de Saúde Escolar confirmou que os meninos são os que mais praticam bullying. Não é por menos: muitos deles são criados sob o projeto de uma masculinidade “valentona”, que coloca uma suposta “bravura” e a “busca por respeito” como primária ao respeito e a empatia. Dessa forma, trabalhar para que esses estereótipos sociais problemáticos e ultrapassados não sejam passados dentro de casa é um ótimo começo. Não existe maior ato de coragem do que aprender a se colocar no lugar do outro. Um dos principais pontos da disciplina positiva é o exemplo desde cedo: estabelecer relações familiares baseadas no respeito, na empatia e na generosidade. Este é o ponto de partida para evitar conflitos na escola e em outros locais de socialização secundária da criança. A criança que é respeitada aprende naturalmente sobre respeito.
Apesar disso, em alguns casos esse exemplo de “brincadeira” não vem de casa. É o caso de crianças que, muitas vezes, praticam bullying e brincadeiras ofensivas por quererem se encaixar em algum grupo ou até mesmo para evitar que aquilo ocorra com elas. Em situações como esta, o diálogo deve sempre estar em dia com a escola, mas principalmente com as crianças.
Ensinar, de maneira adequada aos vocabulários da criança, que brincadeira é aquela onde todo o mundo se diverte, sem exceções. Uma dica é muito valiosa: valorize as atitudes positivas do pequeno, elogiando suas atitudes de generosidade e empatia. Uma criança segura e empoderada de seus valores tem menos chance de apresentar comportamentos que agridam ou ofendam outras pessoas.