O filme sugerido esta semana (Dumplin’) aborda com êxito a questão dos padrões de beleza impostos pela sociedade e sua relação com a autoestima das pessoas que fogem a este ideal- ou seja, a gigantesca parcela da população mundial. Não são poucas as pessoas que entram no meu consultório por estarem insatisfeitas consigo mesmas- principalmente com seus corpos. Mas por que buscamos um corpo “perfeito”? Aliás, quem foi que determinou o que é um corpo perfeito? Eu respondo: um corpo perfeito é aquele que abriga uma pessoa feliz.
É interessante notarmos que o ideal de beleza é sempre o corpo mais inacessível. No século XV, onde a oferta de alimentos era muito menor, o ideal de beleza era o corpo mais arredondado e cheio, porque isso demonstrava status, poder e riqueza: os quilos de sobra eram o que havia de inacessível. Com o avanço da tecnologia e das técnicas de cultivo e produção de alimentos, mais pessoas puderam ter a chance de consumir uma dieta mais rica e calórica, e o cenário, então, se inverte- o corpo ideal se torna o corpo magro, estreito.
Esse padrão perdura até hoje, mas sofre de especificidades importantes do nosso tempo: as redes sociais, a mídia e a tecnologia digital mudaram muito o modo como nos enxergamos. A população minoritária que consegue alcançar minimamente esse padrão ideal é cultuada na internet, sem que nós nos lembremos de que essas pessoas, em sua maioria, possuem uma ampla rede de profissionais especializados em estética para que aquele corpo se torne o que o padrão de beleza dita que deve ser.
Além disso, não podemos esquecer: esses corpos das redes sociais passam por diversas edições em aplicativos de filtros e maquiagens para se tornarem esse objeto de desejo que não é acessível na prática da vida real – pelo menos nas nossas de mães e pais, que trabalham muitas horas do dia e ainda possuem várias tarefas para cumprir.
O Movimento “Body Positivity” que invadiu as redes nos últimos anos, traz essa reflexão. Essa nova onda visa questionar o fato de que o corpo magro é um ideal de beleza e saúde, propondo não apenas a valorização de diferentes corpos, mas um cuidado que vise a saúde para além do emagrecimento: fazer exercícios buscando os prazeres da endorfina, uma maior flexibilidade, mais resistência…
O Body Positive pode ser erroneamente entendido como uma exaltação ao corpo gordo, mas essa concepção é equivocada: o Body Positive busca incentivar o respeito e o amor ao próprio corpo, deixando de lado as frustrações das dietas mega restritivas e das expectativas da busca por um ideal de corpo que é quase inalcançável. Muitos influencers e blogueiros aderiram ao movimento, mostrando a todos que as vezes a magreza e o corpo perfeito é questão de ângulo e pose: essas mulheres e homens assumiram as estrias, acnes, cicatrizes e celulites para mostrarem que devemos sim buscar um corpo saudável, mas não um corpo perfeito.
Dessa forma, acredito que essa movimentação que busca desmistificar o corpo ideal e incentivar o amor ao corpo real é muito valiosa: não apenas para que cada vez menos pessoas entrem na batalha dantesca contra o próprio corpo, muitas vezes colocando a saúde em jogo, mas para que possamos entender que corpo ideal é aquele que abriga gente feliz.