O distúrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o TDAH, ganhou amplo destaque entre os pais, as escolas e os consultórios. Um estudo recente mostrou que o TDAH atinge de 4 a 10% das crianças por todo o mundo. Apesar de pesquisas sólidas sobre a temática, devemos nos perguntar: quais os motivos para o aumento estrondoso de casos de TDAH nas últimas décadas? Será que todos esses diagnósticos estão corretos?
Uma coisa é fato: as crianças das últimas gerações são expostas a uma avalanche de informações. O avanço da tecnologia, sua entrada cada vez maior nas casas e a dependência crescente dos celulares, televisões, tablets e redes sociais não podem ser desconsideradas quando tratamos do assunto. A criança contemporânea necessita processar uma infinidade de dados- o que não era habitual na infância de algumas décadas atrás. Com esse fato, constatamos que a atenção é moldada por fenômenos sociais importantes, que não devem ser desconsiderados quando falamos do TDAH.
A mídia tem também um papel central nesse debate. O TDAH é comumente banalizado em reportagens e em conteúdos nas redes sociais, assim como a intervenção medicamentosa. Nos cursinhos pré-vestibular por todo o Brasil não é incomum vermos estudantes que, esperando cumprir altos rendimentos, buscam medicamentos como o Metilfenidato para lhes auxiliarem. Vemos aqui, de maneira clara, que a escola, os vestibulares e as provas se apresentam como uma estrutura social que causam um sofrimento e uma angústia grande para a maioria dos jovens. O desajuste que a maior parte dos alunos sentem no ambiente escolar se mostra como um fracasso da Instituição Escola, e não do aluno.
Podemos entender que o TDAH vem sendo banalizado e distorcido, para além de mal interpretado. O TDAH existe enquanto um transtorno de base biológica e afeta algumas crianças. Ainda assim, muitos profissionais – psicopedagogos, psicólogos, psiquiatras e professores – não sabem identificar a diferença imprescindível entre Transtorno de Aprendizagem e Dificuldade Escolar. Nem toda a criança que possui dificuldade escolar apresenta um transtorno de aprendizagem. A dificuldade escolar possui como base alguma questão externa – pedagógica ou sociocultural – enquanto o TA tem como fundamento a neurobiologia, algo interno ao indivíduo.
Muitas crianças e adolescentes são diagnosticados e medicalizados erroneamente: causas sociais do fracasso escolar são confundidas com as causas orgânicas pela banalização que o Transtorno de Déficit de Atenção vem sofrendo nos últimos anos. Condições econômicas, dificuldades em algumas matérias, relações ruins com os professores, conflitos familiares, bullying, timidez e sensação de desajuste social são conhecidas influências no processo de aprendizagem e podem trazer grandes prejuízos para o desempenho escolar e cognitivo, se tornando fatores de risco para a dificuldade escolar, desinteresse, baixa autoestima e até a evasão escolar.
Dessa forma, nós, como profissionais da psicologia, da saúde mental e da educação, devemos olhar com mais carinho e atenção para os nossos alunos e pacientes. O tratamento para o TDAH e a intervenção medicamentosa, apesar de importantes para aqueles com diagnóstico correto, podem trazer sofrimento, angústia e confusão para crianças e adolescentes que são erroneamente diagnosticados.