Dra. Nadia Bossa

Psicopedagogo: ser ou não ser, eis a questão…

A questão da complexidade do papel do psicopedagogo na sua atuação preventiva, tanto quanto na sua atuação clínica, e a importância das condições pessoal e de formação desse papel, é sempre uma grande preocupação do profissional consciente da sua responsabilidade na vida das outras pessoas. Utilizar a afetividade como elemento facilitador, e não como um obstáculo é uma tarefa extremamente árdua.

E estou me referindo a afetividade no sentido essencialmente psicanalítico. Ressalto que uma prática consistente e coerente com a abordagem psicopedagógica demanda não apenas um bom manejo de técnicas de intervenção, mas fundamentalmente um bom manejo dos afetos. O tratamento ou a intervenção psicopedagógica põe em xeque, o reconhecimento pelo profissional, do seu campo de atuação e suscita questões da técnica e da ética. A especificidade da intervenção psicopedagógica em relação a outras formas de tratamento, mais especificamente outras terapias, nos coloca diante de problemas como por exemplo o tempo para obtenção de resultados, a pressão da escola e da família e muitos outros, que na verdade são a razão do nascimento da Psicopedagogia. A título de ilustração podemos citar a técnica da utilização utilização do jogo como técnica de intervenção. Utilizada em diferentes contextos terapêuticos (fonoaudiologia, ludoterapia, psicoterapia de abordagem cognitivista e outras), no tratamento psicopedagógico não pode perder de vista a dimensão da aprendizagem acadêmica. Tanto o psicólogo, como o psicopedagogo, menos preparado, talvez não percebam estas diferenças tão sutis. Isso ocorre porque muitas vezes um ou outro não tem claro qual o seu lugar na intervenção. Portanto a grande diferença não reside efetivamente nos instrumentos, mas sim no conhecimento do profissional, o qual deve saber exatamente “onde” e “como” operar. Na psicopedagogia não estamos tratando o sujeito epistêmico de Piaget, o sujeito do inconsciente de Freud, o sujeito cindido de Lacan, estamos sim tratando de resgatar um sujeito total: não a soma, mas sim a integração desses sujeitos ou fragmentos, em um novo desenho mais coerente com o pensamento científico atual.

Saber o que isso significa, eis aí a questão do Ser Psicopedagogo.

Dra. Nadia Bossa, 2017

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