Dra. Nadia Bossa

FREUD EXPLICA: POR QUE ASSISTIMOS PORNÔ?

A pornografia é parte do cotidiano de muitas pessoas. Em um post anterior, já falei sobre os malefícios do consumo do pornô – que vão desde a saúde individual e orgânica do espectador até os impactos afetivos nos relacionamentos amorosos e sexuais – mas hoje, convido à reflexão: por que ainda assim as pessoas assistem pornografia? A psicanálise tem algo a dizer sobre isso?

Para início de conversa, é necessário que conceituemos corretamente o que é a pornografia, que muitas vezes é entendida de forma equivocada como o produto erótico em si. A pornografia não é meramente o conteúdo adulto, mas uma maneira específica e culturalmente moldada de entender e consumir estes produtos, reduzido a uma materialidade vulgarmente ou intencionalmente sexualizada. O erotismo, por sua vez, se manifesta no aspecto contemplativo e muitas vezes assume um caráter artístico: muitas são as músicas, pinturas, livros, fotografias – e até filmes – que entendem a sexualidade pelo aspecto da sensualidade erótica e não pornográfica. Resumindo: Toda pornografia é um tipo de conteúdo erótico, mas nem todo conteúdo erótico é pornografia.

A diferenciação é baseada principalmente pela explicitação e o choque do conteúdo sexual em cena: enquanto o conteúdo erótico ainda é passível de uma aceitação coletiva, o conteúdo pornográfico é barrado por muros ainda maiores do choque e do pudor. O conteúdo pornográfico se torna algo limitado ao espaço íntimo, que mescla a aventura e o descobrimento ao constrangimento e a vergonha.

O consumo de pornografia é muito mediado pelo espaço da falta – não pela falta do ato sexual propriamente dito, mas podendo se manifestar pela falta da imaginação, do erotismo, da aventura, do espelho para enxergar a si mesmo. Quem consome pornografia é motivado pela possibilidade da fantasia: o atravessamento de todas as etapas da intimidade e a simbolização da sensualidade, possibilitando ao expectador um atalho no caminho da satisfação. É basicamente uma emboscada trajada de “um caminho mais fácil”.

Apesar de ser, em essência, uma submissão (pela necessidade do consumo de pornografia, uma relação maquiada, para a satisfação dos próprios prazeres) a pornografia se mostra ao espectador como um degrau para o sentimento de dominação: o consumidor possui um universo de espetáculos eróticos na palma das suas mãos, com todo poder para desfrutá-los. Muito além desse sentimento proporcionado pela posição de espectador, a pornografia é feita com o intuito de aproximar o espectador à posição ativa no ato sexual, encontrando diretamente suas realizações sociais e se unindo ao que o sujeito almeja: poder, sensualidade, desejo, vontade, charme, sedução, beleza, atração- quaisquer que seja a forma pela qual é metaforizada.

A pornografia se introduz e se apossa pelos próprios desejos do sujeito, se mesclando com as imposições culturais da atração e da sexualidade. A pornografia aliena o ato sexual e encerra a sexualidade na questão simbólica, aparente, estética, reduzindo o percurso- e a beleza- dessa esfera tão importante da vida humana.

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